sábado, agosto 27

Por Martha Medeiros,

Pode invadir ou chegar com delicadeza, mas não tão devagar que me faça dormir.
Não grite comigo, tenho o péssimo hábito de revidar. Acordo pela manhã com ótimo humor mas ... permita que eu escove os dentes primeiro.
Toque muito em mim, principalmente nos cabelos e minta sobre minha nocauteante beleza.
Tenho vida própria, me faça sentir saudades, conte algumas coisas que me façam rir, mas não conte piadas e nem seja preconceituoso, não perca tempo, cultivando este tipo de herança de seus pais.
Viaje antes de me conhecer, sofra antes de mim para reconhecer-me um porto, um albergue da juventude. Eu saio em conta, você não gastará muito comigo.
Acredite nas verdades que digo e também nas mentiras, elas serão raras e sempre por uma boa causa. Respeite meu choro, me deixe sózinha, só volte quando eu chamar e, não me obedeça sempre que eu também gosto de ser contrariada. ( Então fique comigo quando eu chorar, combinado?).
Seja mais forte que eu e menos altruísta! Não se vista tão bem... gosto de camisa para fora da calça, gosto de braços, gosto de pernas e muito de pescoço.
Reverenciarei tudo em você que estiver a meu gosto: boca, cabelos, os pelos do peito e um joelho esfolado, você tem que se esfolar as vezes, mesmo na sua idade.
Leia, escolha seus próprios livros, releia-os.
Odeie a vida doméstica e os agitos noturnos. Seja um pouco caseiro e um pouco da vida, não de boate que isto é coisa de gente triste. Não seja escravo da televisão, nem xiita contra. Nem escravo meu, nem filho meu, nem meu pai. Escolha um papel para você que ainda não tenha sido preenchido e o invente muitas vezes. Me enlouqueça uma vez por mês mas, me faça uma louca boa, uma louca que ache graça em tudo que rime com louca: loba, boba, rouca, boca ...
Goste de música e de sexo. Goste de um esporte não muito banal. Não invente de querer muitos filhos, me carregar pra a missa, apresentar sua familia... isso a gente vê depois ... se calhar ...
Deixa eu dirigir o seu carro, que você adora. Quero ver você nervoso, inquieto, olhe para outras mulheres, tenha amigos e digam muitas bobagens juntos.
Não me conte seus segredos ... me faça massagem nas costas. Não fume, beba, chore, eleja algumas contravenções. Me rapte! Se nada disso funcionar ... experimente me amar!

sexta-feira, agosto 26

Momento eternizado,

O último alarme de partida tocou. O Grande, com capacidade para mais de duzentas pessoas se prepara para sair. O destino será alcançado em um pouco mais de uma hora. A embarcação relativamente vazia carrega pessoas que voltam de suas missões.
De forma geral, todos estão a passeio pois o trajeto a ser percorrido além de extenso, é de extrema exuberância.
O Grande despede-se do continente, estamos todos indo para casa. O dia está ameno, a cidade vista do mar parece silenciosa e inerte. Já foge da memória a sensação de estar correndo contra o tempo pelas ruas com o caos que a rotina impõe.
Cada um curte a viagem de uma forma, seja com um simples bate-papo ou então a conferência dos pertences. Uns descansam e outros apenas observam a paisagem e deixam o tempo passar.
Não importa quantas vezes esse trajeto seja feito é impossível não ser reverente a imensa beleza. O mar, o céu, o verde, tudo tão vasto que parece não ter fim. Mas, tem. E essa degradação começa dentro da nossa casa.
Um vento suave nos envolve juntamente ao reflexo morno do sol. Eu poderia eternizar esse momento, eu poderia eternizar essa natureza.
Eu ambiciono uma harmonia possível, cidade e natureza. Onde o verde tem valor, onde a vida vale mais do que o desenvolvimento industrial. Eu ambiciono presenciar o dia em que o índice de respeito ao próximo seja mais alto que o de degradação ambiental.
Torno esse sonho um pouco mais real todos os dias que levanto e zelo pelo meu planeta. As maneiras são diversas, pequenos gestos contam e fazem a diferença. Quero quem sabe daqui há alguns anos, poder fazer esse passeio com meu filho e mostrar-lhe toda beleza que eu vejo hoje e fazê-lo então sentir a vontade de eternizar esse momento.
- Anita J. Valmet

Vícios em jogos,

Tudo começa como uma brincadeira. Como em todo jogo, conforme você ganha experiência, fica mais confiante. Essa confiança faz com que as apostas sejam um atrativo para deixar o jogo mais interessante. O prazer em jogar é crescente. Em pouco tempo, os lances ficam cada vez maiores e embora ainda não tão rotineiros, já é algo a ser reparado. A brincadeira segue e em algum momento nota-se que não é possível ficar sem o jogo com apostas. Ainda assim, considera-se capaz de largar quando quiser.
O problema está na confiança de achar que tem o controle da situação, que pode parar quando quiser, mas o vício se camufla e quando o jogador for se dar conta, pode ser bem tarde... E tal vício pode crescer cada vez mais fazendo com que as finanças fiquem em risco e expõe também a família e a carreira profissional.
O que será que está em “jogo” que gera a necessidade de apostar?

quarta-feira, agosto 24

Lembranças de Natal,

A casa está cheia mais uma vez, todos felizes comendo e contando histórias. É noite de Natal. As crianças correm pelos corredores da casa, deixando suas gargalhadas ecoando pelo resto do ambiente.
Na cozinha as mães ajeitam os pratos e relembram as travessuras dos tempos passados. Na varanda lateral os homens falam sobre economia e seus projetos concretizados. O cheiro da rabanada quente envolve a todos fazendo o apetite crescer ainda mais. Há curiosos na beirada da árvore tentando descobrir nomes nos pacotes.
No quintal as árvores estão enfeitadas com luzes brancas em todo o seu caule. A televisão passa programas especiais que prende a atenção de uns. O sentimento é de harmonia. A noite parece não ter fim.
Um fino sereno cobre os carros na calçada e a rua está vazia. Na sala de estar os preparativos estão encerrando-se. Todos estão atentos para o chamado do jantar. Todos estão felizes pela alegria compartilhada. A bisneta de laço azul no cabelo observa tudo. Se sente orgulhosa por ter aquela família tão linda. Orgulha-se pela noite mágica que Deus proporciona todos os anos a toda aquela gente. Seu pensamento vai longe.
A matriarca chama a todos. O jantar está servido.

Karen Garcia

Eram finais de semana,

Quando menina o cenário dos finais de semana era o quintal da casa da bisa. As primas vinham da cidade vizinha para o final de semana em família. Era festa quando juntavam os sete.
Brincavam de pique, subiam em árvores, jogos coloridos de tabuleiro e gincanas com provas. Quem comia mais pitangas em menos tempo, quem subia na árvore mais alta.
Uma pausa para o almoço. As crianças faziam fila perto da torneira para lavar as mãos e os pés. Sempre tinha um que tentava subir.
Na mesa eram servidos e alertados para não fazer bagunça, sempre era uma festa. Só saiam da mesa se comessem tudo, e a ansiedade de voltar a brincar era deixada um pouco de lado quando falava-se em sobremesa.
A tarde seguia. Em torno das cinco, todos iam para o banho. Era uma missa decidir a ordem de limpeza da trupe. Sempre tinha um rebelde para tomar banho no banheiro de fora para acabar primeiro, mesmo com a água gelada.
Depois de todos limpos e engomados, sentavam-se a mesa novamente para tomar o lanche da tarde. Com as tensões amenizadas comiam e ouviam histórias. O plano em seguida eram os jogos de tabuleiro na varanda. Rendia o começo da noite.
 “Mais meia hora e vamos todos entrar.” Dizia a tia com as mãos na cintura. Obedientes, em máximos quarenta minutos estavam todos lá dentro guardando os jogos.
Chegada a hora de dormir, todos tomavam um copo de leite com biscoito e iam escovar os dentes. Já de pijama, entravam no quarto da bisa e em torno de sua cama rezavam todos juntos. Pediam benção e iam dormir.
No quarto contavam histórias de heróis e fantasmas cada um em sua cama. Pouco a pouco o sono tomava conta. Amanhã era domingo e o dia terminaria pela metade. Segunda feira tinha escola.

Karen Garcia

terça-feira, agosto 23

Por Martha Medeiros,

Sumi porque só faço besteira em sua presença, fico mudo
quando deveria verbalizar, digo um absurdo atrás do outro quando
melhor seria silenciar, faço brincadeiras de mau gosto e sofro
antes, durante e depois de te encontrar.
Sumi porque não há futuro e isso não é o mais difícil de
lidar, pior é não ter presente e o passado ser mais fluido que o ar.
Sumi porque não há o que se possa resgatar, meu sumiço é
covarde mas atento, meio fajuto meio autêntico, sumi porque
sumir é um jogo de paciência, ausentar-se é risco e sapiência,
pareço desinteressado, mas sumi para estar para sempre do seu
lado, a saudade fará mais por nós dois que nosso amor e sua
desajeitada e irrefletida permanência.

Um brinde,

Vou brindar, hoje, pela vida mais uma vez. Por todos aqueles que tem vontade de viver, por aqueles que fazem da sua vida algo extraordinário. Por aqueles que fazem a vida de alguém, de alguma forma, ser melhor.
Um brinde àqueles que superam suas dificuldades, superam seus medos e são fortes. Pela singularidade de casa um. Aos que são como água e vinho, frio e quente.

Karen Garcia

Coisa de MSN ,


Ele: Posso te falar uma coisa? 

Ela: Fala.. 

Ele: Só não vale ficar encabulada ou chateada... 

Ela: Tá, tudo bem..

Ele: Eu acho que senti algo diferente, especial por vc... mas não sei explicar o que é... 

Ela: Own, seu lindo! (já nas nuves, como uma garotinha boba)

Ele: Eu fiquei com medo de falar e estragar tudo..

Ela: Eu gostei de você, gosto do seu jeito.. 



Ela: Hoje eu li uma coisa muito bonita no facebook: " A distância só separa quem quer ser separado" 

Ele: Eu sei, eu vi. Queria estar do seu lado. 

Ela: ... 

Ele: Sério... eu não conseguia pensar em nada triste quando estava com vc... Se vc me chamasse pra ir correndo até o Pico do Papagaio eu ia...

Ela: Você me deu vontade de sorrir e escutar musicas alegres 

Ele: Vc me deixa alegra, feliz, seguro...

Ela: Ta, vou te pedir em casamento a próxima vez que nos encontrarmos. 

Ele: Cuidado! Eu aceito! 

Chuva para os próximos dias,


Da sacada eu ouço o rádio anunciando chuva para os próximos dias. O café amargo e quente é reconfortante mediante as notícias que seguem. A presidente pretende fazer faxina. A Educação continua recebendo descaso e os impostos não param de subir. Criança de dois anos é atingida por bala perdida na Zona Oeste do Rio de Janeiro. Há um trânsito infernal de Norte a Sul.
Em Brasília eles discutem quantos assessores o político pode ter, no Nordeste há crianças passando fome. O Senador passeia em helicóptero particular, enquanto o trabalhador morre por não ter quem socorra sua vida crua.
O capitalismo não quer enxergar o sustentável. Tem gente avisando que não terá amanhã, mas eles não dão a menor importância. Enquanto a modelo sofre para ter seu corpo magro, o moleque sofre em não ter o que comer. A democracia oprime o direito de expressão quando só expõe o que convém. A campanha política propaga igualdade, mas a poeira suja é escondida debaixo do tapete.
Um longo suspiro. Eu não sei por onde começar meu dia, mas sei que vai ser longo. Meu café está esfriando. O rádio anuncia chuva para os próximos dias.

Karen Garcia

segunda-feira, agosto 22

Talvez ?

Quem sabe amanhã eu acorde e as coisas estejam um pouco diferente. Quem sabe amanhã eu acorde e meu pensamento seja outro. Talvez, amanhã eu volte ser o que eu sempre fui. Volte a sonhar meus sonhos altos. Volte a viver a minha vida.
Hoje eu não consigo levantar desse chão frio. Não consigo me desapegar dessa vontade de não acordar.  Talvez um dia eu acorde e veja que isso tudo não passou de um sonho.
Nessa manhã, quando acordei e vi meu rosto no espelho, não me reconheci. Uma cara desconfigurada e cheia de amargura. A minha vontade foi atacar o espelho. Onde está aquela menina que sonha, chora de felicidade com seu sorriso de laço? Talvez eu ache no ralo do banheiro, ou dentro de um livro velho.

Karen Garcia

domingo, agosto 14

O fim da linha não existe,

Hoje eu encontrei a nossa foto de um ano atrás. Me fez lembrar como a distancia incomoda. Me fez lembrar o nosso primeiro beijo na chuva e do resfriado no dia seguinte. Bateu uma saudade tão boa. Eu fechei meus olhos e o telefone apitou. Mensagem. Meu mundo se coloriu quando eu vi:
"Eu preciso de você nos meus dias, me ligando de manhã e desejando bom dia. Se atrapalhando toda para vir me ver nos finais de semana. Se arrumando toda pra me receber final de semana. Eu preciso de você nos meus sonhos todas a noites. Você faz essa distancia valer a pena. Eu quero você pro resto da minha vidaaaa ." 

Anita J. Valmet