segunda-feira, agosto 20

A pomba do Nakaren


"Uma vez, eu contratei um Buffet para fazer uma festa de aniversário para o meu filho Gabriel. Meu pai não pôde estar presente neste aniversário, pois estava trabalhando em outro estado. Como a anfitriã da festa, em toda mesa que passava, tinha que me sentar e tomar alguma coisinha “vem senta aqui com a gente” e ia assim foi de mesa em mesa...
A festa era do meu filho, eu tinha que dar atenção para todos. Eram copinhos pequenos, do tipo de pinga... Dois goles em cada mesa... Em cada mesa um sabor diferente... Estávamos servindo de tudo – menos wisk -, até vinho tinha. Eu bebi tudo! E acabou sendo um dos porres da minha vida sem querer.
O mágico estava lá, fazendo as mágicas dele muito bem... Ótimo, maravilhoso, afinal, ele havia sido contratado para isso. Quando então, ele tira a pomba da cartola! Pra quê?! 
Eu queria porque queria comprar a pomba do mágico! Os meus filhos gostaram muito da pomba, principalmente o Gabriel que adora ave, né... Eu disse para o mágico: “Me dá o teu preço! Eu pago qualquer preço pela tua pomba.” Meu filho queria e eu ia dar para ele de aniversário. Eu perturbei a vida do Nakaren, pois eu queria comprar a pomba dele. 
No final da festa, tentaram me dar um banho para curar meu porre.  E na tentativa de me darem um banho, eu disse que não ia tirar a roupa, pois o meu pai ia ver... Como iam tirar a roupa para me dar banho e meu pai ia ver me sem roupa???
Meu pai nem no Rio estava... E eu querendo a pomba do mágico! "

Contos de Vidas, com Márcia Reis 

A mulher de 30 anos

Por Honoré de Balzac 


Ela perde o frescor juvenil, é verdade. Mas também o ar inseguro de quem ainda não sabe direito o que quer da vida, de si mesma e de um homem. Não sustenta mais aquele ar ingênuo, uma característica sexy da mulher de 20. Só que isso é compensado por outros atributos encantadores que reveste a mulher de 30. 
Como se conhece melhor, ela é muito mais autêntica, centrada, certeira no trato consigo mesma e com seu homem. Aos 30, a mulher tem uma relação mais saudável com o próprio corpo e orgulho da sua vagina, das suas carnes sinuosas, do seu cheiro cítrico. Não briga mais com nada disso. Na verdade, ela quer brigar o menos possível. Está interessada em absorver do mundo o que lhe parecer justo e útil, ignorando o que for feio e baixo - astral. Quer é ser feliz. Se o seu homem não gosta dela do jeito que é, que vá procurar outra. Ela só quer quem a mereça. 

Aos 30 anos, a mulher sabe se vestir. Domina a arte de valorizar os pontos fortes e disfarçar o que não interessa mostrar. Sabe escolher sapatos e acessórios, tecidos e decotes, maquiagem e corte de cabelo. Gasta mais porque tem mais dinheiro. Mas, sobretudo, gasta melhor. E tem gestos mais delicados e elegantes. 

Aos 30, ela carrega um olhar muito mais matador quando interessa matar. E finge indiferença com muito mais competência quando interessa repelir. Ela não é mais bobinha. Não que fique menos inconstante. Mulher que é mulher,se pudesse, não vestiria duas vezes a mesma roupa nem acordaria dois dias seguidos com o mesmo humor. Mas, aos 30 ela,já sabe lidar melhor com esse aspecto peculiar da sua condição feminina. E poupa (exceto quando não quer) o seu homem desses altos e baixos hormonais que aos 20 a atingiam e quem mais estivesse por perto, irremediavelmente. 
Aos 20, a mulher tem espinhas. Aos 30, tem pintas, encantadoras trilhas de pintas, que só sabem mesmo onde terminam uns poucos e sortudos escolhidos.
Sim, aos 20 a mulher é escolhida. Aos 30, é ela quem escolhe. E não veste mais calcinhas que não lhe favorecem. Só usa lingeries com altíssimo poder de fogo. Também aprende a se perfumar na dose certa, com a fragrância exata.
A mulher de 30, mais do que aos 20, cheira bem, dá gosto de olhar, captura os sentidos, provoca fome. Aos 30, ela é mais natural, sábia e serena. Menos ansiosa, menos estabanada. Até seus dentes parecem mais claros; seus lábios, mais reluzentes; sua saliva, mais potável. E o brilho da pele não é a oleosidade dos 20 anos, mas pura luminosidade.
Aos 20 ela rói as unhas. Aos 30, constrói para si mãos plásticas e perfeitas. Ainda desenvolve um toque ao mesmo tempo firme e suave. Ocorre algo parecido com os pés, que atingem uma exatidão estética insuperável. Acontece alguma coisa também com os cílios, o desenho das sobrancelhas, o jeito de olhar. Fica tudo mais glamouroso, mais sexualmente arguto.
Aos 30, quando ousa, no que quer que seja, a mulher costuma acertar em cheio. No jogo com os homens já aprendeu a atuar no contra - ataque. Quando dá o bote é para liquidar a fatura. Ela sabe dominar seu parceiro sem que ele se sinta dominado. Mostra a sua força na hora certa e de forma sutil.
Não para exibir poder, mas para resolver tudo ao seu favor antes de chegar ao ponto de precisar exibi-lo. Consegue o que pretende sem confrontos inúteis. Sabiamente, goza das prerrogativas da condição feminina sem engolir sapos supostamente decorrentes do fato de ser mulher.