quinta-feira, março 8

Das dificuldades da vida.

Falar é completamente fácil, quando se tem palavras em mente que expressem sua opinião. Difícil é expressar por gestos e atitudes o que realmente queremos dizer, o quanto queremos dizer, antes que a pessoa se vá. Fácil é julgar pessoas que estão sendo expostas pelas circunstâncias. Difícil é encontrar e refletir sobre os seus erros, ou tentar fazer diferente algo que já fez muito errado.
Fácil é ser colega, fazer companhia a alguém, dizer o que ele deseja ouvir. Difícil é ser amigo para todas as horas e dizer sempre a verdade quando for preciso. E com confiança no que diz. Fácil é analisar a situação alheia e poder aconselhar sobre esta situação. Difícil é vivenciar esta situação e saber o que fazer ou ter coragem pra fazer.
Fácil é demonstrar raiva e impaciência quando algo o deixa irritado. Difícil é expressar o seu amor a alguém que realmente te conhece, te respeita e te entende. E é assim que perdemos pessoas especiais.
Fácil é mentir aos quatro ventos o que tentamos camuflar. Difícil é mentir para o nosso coração.
Fácil é ver o que queremos enxergar. Difícil é saber que nos iludimos com o que achávamos ter visto. Admitir que nos deixamos levar, mais uma vez, isso é difícil.
Fácil é dizer "oi" ou "como vai?" Difícil é dizer "adeus", principalmente quando somos culpados pela partida de alguém de nossas vidas...
Fácil é abraçar, apertar as mãos, beijar de olhos fechados. Difícil é sentir a energia que é transmitida. Aquela que toma conta do corpo como uma corrente elétrica quando tocamos a pessoa certa. Fácil é querer ser amado. Difícil é amar completamente só. Amar de verdade, sem ter medo de viver, sem ter medo do depois. Amar e se entregar, e aprender a dar valor somente a quem te ama.
Fácil é ouvir a música que toca. Difícil é ouvir a sua consciência, acenando o tempo todo, mostrando nossas escolhas erradas. Fácil é ditar regras. Difícil é seguí-las. Ter a noção exata de nossas próprias vidas, ao invés de ter noção das vidas dos outros.
Fácil é perguntar o que deseja saber. Difícil é estar preparado para escutar esta resposta ou querer entender a resposta. Fácil é chorar ou sorrir quando der vontade. Difícil é sorrir com vontade de chorar ou chorar de rir, de alegria.
Fácil é dar um beijo. Difícil é entregar a alma, sinceramente, por inteiro. Fácil é sair com várias pessoas ao longo da vida. Difícil é entender que pouquíssimas delas vão te aceitar como você é e te fazer feliz por inteiro. Fácil é ocupar um lugar na caderneta telefônica. Difícil é ocupar o coração de alguém, saber que se é realmente amado.
Fácil é sonhar todas as noites.  Difícil é lutar por um sonho.
Eterno, é tudo aquilo que dura uma fração de segundo, mas com tamanha intensidade, que se petrifica, e nenhuma força jamais o resgata.

Carlos Drummond de Andrade

Quando eu chorei na Segunda Grande Guerra


Não há muito o que se esperar de uma quinta-feira de comum. A princípio um onibus tranquilo, depois um metrô lotado. Vagão feminino, dia internacional da mulher. Uma cidade efervecendo em mais um dia da rotina corrida. As pessoas não olham para o lado e raros são o que cumprimentam com "bom dia". 
Alguns minutos de espera, uma saudasa e produtiva reunião. Mais coletivo. O vagão do trem não estava tão sujo, entretanto não tinha lugar folgado para sentar. A tentativa poderia ser pior do que ficar em pé durante quarenta minutos de viagem. 
Pensei na profisão de fotógrafo, me imaginei um dia fazendo um booking do rio de janeiro, caso isso acontecesse, começaria a registrar a vida no trem. Uma representação muito justa ao meu ver. Eu começaria dos pés. Seria daquela fotógrafa que me deitaria e viraria do avesso para pegar um bom ângulo e focar uma boa imagem. 
"Próxima estação..." a minha. Do último vagão até a escadaria era um certo chão, tempo para arrumar o cabelo, ajeitar a blusa, pensar no calor e sentir fome. Em alguns poucos minutos estaria no ar condicionado do curso e os pensamentos iriam se esvair. 
Primeiro tempo, Geografia. 
Logo após a Alemanha ter sido considerada a malvada na Primeira Guerra Mundial, chega um cara que a abraça e reestrutura o país com poucos anos no poder. Isso depois de um bom tempo no fundo do poço, é uma oferta mais do que aceitável pelo povo alemão. 
As palavras do professor, toda sua gesticulação e enfase nas frases, fazem com que em pouco mais de meia hora de aula, comece a sair lágrimas dos meus olhos. Um choro segurado, pois chorar na sala de aula é coisa singular. 
Na verdade, aquela história que muitas vezes se le a respeito e que tanto se fala, tinha acontecido há pouco mais de setenta anos. Quase ontem na história da humanidade, matou-se desmedidamente em prol do dinheiro e principios egocentricos. Nesse pequeno espaço de tempo, milhões de pessoas deram a vida por causas que nem sabiam ao certo do que se tratavam. Tantas vidas fora dolorosamente roubadas. Anos de terror desde o ano de 1939 a 1941 na Europa. A palavra de poucas pessoas simplesmente mudava  o mundo. E mudou. 
No meu rosto as lágrimas rolavam sem soluço por timidez, mas a vontade era de gritar, mesmo sem entender a fundo o assunto. Tanta perversidade e crueldade em um cenário que podemos denominar "a pouco tempo atrás" quissá "ontem". 
Agosto de 1945, o apertar de um botão muda a história de um país, muda a vida de centenas de pessoas. Hiroshima é arrasada pelos Estados Unidos. Uma atitude marca dolorosamente a vida de muitas pessoas. Arrasa com a perspectiva de mundo de muitas crianças. 
Lágrimas mais densas começam a descer ao me dar conta de que esse genocídio cometido há alguns anos, é o que se faz atualmente de uma maneira menos trabalhosa e alardante: não dando as mínimas condições de vida para grande parte da população. Estamos vivendo um Holocausto.