Com gestos automáticos, ela se levantou da cama e dirigiu-se até a
escrivaninha para desligar o aparelho celular que tocava pragmaticamente. Um alarme pouco convidativo tocou exatamente às cinco horas e dois minutos. Olhou
para aquele rosto sereno enrolado no grande cobertor claro e dando-lhe um beijo
na testa, o cobriu até os ombros.
O carpete estava frio, calçou os chinelos e foi para o banheiro. Ao
urinar, notou que o papel havia acabado. Adiantou um banho rápido e quente,
imaginando o algodão úmido que faria no céu naquela manhã de terça feira.
Um alarme indie começou a tocar quando acaba de se enrolar na toalha.
Caçou o celular que estava debaixo de seu travesseiro marcando cinco e
dezesseis. Ativar o modo soneca. Em oito minutos haveria mais música. Havia uma
certa obscenidade com os horários quebrados, que de certa forma eram muito
divertidos.
Vestindo uma camiseta cinza e uma calcinha, aconchegou-se sob o cobertor
na cama quente. Sentiu um estremecimento ao beijar aqueles brancos ombros que
responderam com um abraço adormecido.
Ainda debaixo do cobertor, desligou o celular por três vezes, que eram
respondidos com só mais dez minutos do lado masculino. Levantou-se e vestiu uma
roupa. Suas coisas estavam organizadas, faltavam poucos detalhes. A calça de
malha cinza era confortavel e prática. Olhou pela janela do banheiro, o céu
estava coberto pelo tal algodão e um ar frio invadia o cômodo.
Voltando ao quarto, acordou quem já deveria estar de pé. Enquanto ela
organizava as coisas, ele se arrumava. No vai-e-vem entre
closet-banheiro-quarto se abraçavam e riam de algumas brincadeiras matinais.
O final de semana havia acabado e ainda estavam em festa. Humor e sono
se misturavam em uma tentativa de se organizar para pegarem a estrada.
Um último panorama pelo quarto. Bolsa, pasta e sacola. Cabide, sorriso e
chave. Mochila, carinho e celulares.
Tudo estava nos conformes. Foram para o carro sabendo que pegariam trânsito.
Não importavam, tinham sede da vida e não tinham pressa para vivê-la.