segunda-feira, abril 2

As vezes faltam palavras e a gente perde a noção do tempo

No quintal a correria e uma brincadeira arquitetada. Pelo quarto vestígios de artes e ideias mirabolantes. Às vesperas de datas comemorativas, ensaiava-se coreto, pintavam-se cartões. 
Os finais de semana eram infinitos enquanto duravam. A tarefa escolar muitas vezes ficava por último e restros de alegria por toda casa. Laços que a distância não podia separar, que as diferenças não podiam intervir. Em um tempo em que tudo era sorvete com confete, quando todos os problemas eram driblados com uma ideia genial, quando o plural era singular. 


"Já faz tanto tempo, mas mesmo assim eu te reconheceria em qualquer lugar do planeta. Com uma roupa diferente, maquiagem, máscara e até careta. Faz tanto tempo que não sabemos mais como está a vida da outra, tanto tempo que superficialmente nos sentiríamos estranhas.
Eu me lembro de uma infância perfeita do seu lado, quando todos os impedimentos familiares não soavam mais alto que uma gargalhada e os mesmos não eram capaz de nos separar. As imitações na frente do espelho, as artimanhas das brincadeiras. Os abraços, os sorrisos, as lágrimas.

Se eu te disser que nesse momento veio à minha cabeça um aniversário meu, quando acordamos ao som alto do vizinho. O quarto estava camuflado de cabana e nossa cama estava no chão. E como em um carretel colorido, uma lembrança puxa a outra.

Talvez eu possa contar treze ou quatorze anos, até uma curiosidade misturada com orgulho alastrar uma atitude errada. E um erro persistido. Nem tanto a ação, mas a névoa por cima da intenção. Talvez não tivesse tanta ciência do que estava acontecendo, entretanto, como uma bola de neve, uma pequena coisa cresceu no erro.
O tempo passou. Os caminhos se distinguiram. Tanta coisa aconteceu.
Pode ser que eu não reconhecesse hoje sua voz no telefone e não pudesse imaginar sua reação mediante a alguma circunstância, mas a minha vontade ao te ver, seria te abraçar e me desculpar. E pedir para você nunca mais sair da minha vida. Te contar como tem sido os anos, reconstruir a confiança. Que embora não fosse a mesma de dez anos atrás, seria uma felicidade incondicional estar do seu lado, pois a vida que anda boa, sem dúvida se completaria com este feito.
Não é tão comum eu parar para lembrar dos anos corridos, dos fatos ocorridos. Eu tento frisar apenas as coisas boas. E não importa onde esteja, pensar em você me remete um sentimento muito bom.


Quem sabe o destino não prega alguma ironia. Só espero não ser reprise de crise ascendente. Acho que não cabe a nós repetir o mesmo erro. 
E neste exato momento, independentemente da distância ou onde você esteja, gostaria que soubesse que sinto sua falta e tenho uma admiração enorme por você, Luíza."

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